Aceitação e Consciência Integral: Entrevista com Manoel Rubira

Manoel Rubira é um querido amigo, a quem muitos chamam de mestre! Suas palavras chegam de forma direta e vão cavando no fundo da alma profundos despertares. O convidei para falar sobre Tolerância, tema do módulo 11 do segundo ciclo do Jardim em Flor e gentilmente se apontou o caminho para o termo Aceitação no contexto da Consciência Integral.

Para degustar e se enriquecer, com vocês as palavras de Manoel Rubira:

Você é pura Consciência

1. Conte um pouquinho sobre você e sua trajetória com o Despertar Integral.

Comecei a buscar a partir da insatisfação pessoal, do sentimento de inadequação em relação ao mundo. As religiões não podiam dar resposta a isso. Tive uma experiência de 14 anos em uma denominada escola espiritual, lá fiz amigos, tive alguns insights, mas não encontrei a resposta para meu sofrimento.

Ao retornar à leitura de Krishnamurti encontrei resposta do drama que vivia na saída da tal escola espiritual.

Mergulhei na leitura de Krishnamurti, entrava em meditação e tive insights da Verdade surpreendentes.

No Centro de Estudos Bodsativa pratiquei meditação o que me proporcionou sentimentos de satisfação maravilhosos.

Nesse tempo todo o sofrimento não cessava, pois ainda era muito reativo, estava ainda muito identificado com o eu sofredor.

Resumindo, continuei a ler, meditar, conheci outros mestres da tradição da nãodualidade, o advaita. Posso citar muitos deles.

Agora, minha atenção tem se voltado ao Nisargadatta Maharaj, ao Absoluto que somos.

Somos o Absoluto. Não há separação.

2. Como podemos compreender a tolerância do ponto de vista da Consciência, do Despertar Integral?

Enquanto Consciência Integral, a palavra tolerância não é adequada, isso porque tolerância supõe gradação, ser mais ou menos tolerante. Pressupõe a existência de entes separados, atende ao ego, não ao Ser que é indivisível. Aceitação, é o termo mais adequado, tem o sentido de integralidade. É aceitar o outro, sem nenhum sentido de separação.

O texto de Krishnamurti a seguir expressa bem o que digo:

“A tolerância é da mente, não do coração.

Os inteligentes inventam a tolerância, cada um examinando sua barreira autolimitante e tentando ser gentil e generoso. A tolerância é da mente, não do coração. Você fala de tolerância quando ama? Mas quando o coração está vazio a mente o enche com seus mecanismos astutos e seus medos. Não existe comunhão onde há tolerância.

A tolerância de que falam é apenas uma invenção engenhosa da mente; esta tolerância apenas indica o desejo de se apegarem às vossas próprias idiossincrasias, às vossas próprias ideias limitadas e preconceitos, e de permitirem que os outros procurem as deles. Nesta tolerância não há diversidade inteligente, mas somente uma espécie de indiferença superior”.

3. De que recursos dispomos para esse exercício da Aceitação?

Não existem regras ou práticas, mas apontamentos como: saber que não somos o sistema corpo-mente, ser consciente que se é Consciência, retornar ao Ser, descansar em sua verdadeira Natureza, ter consciência que você é Deus ou o Absoluto, descobrir o que é antes do nascimento e está sempre presente, antes do conhecimento, antes do eu sou. Fundamentalmente ter determinação em encontrar a Liberdade, através da não-prática.

4. Karl Popper traz a reflexão sobre não tolerar o intolerável. O que devemos observar para discernir o que é ou não tolerável?

Se vermos a Aceitação como sinônimo de Tolerância, tudo. Devemos aceitar tudo, isto é não fugir dos pensamentos e das sensações de sofrimento, deixar que existam, pois pertencem à Consciência. Você é Consciência, não o pequeno eu que sofre, dividido, isolado, separado da Consciência.

Quanto ao exterior não ser violento e nem ser conivente com a violência. Acho que é nesse sentido que Popper fala.

5. E como lidar com aquilo que não pode ser tolerado?

O sofrimento psicológico vem da identificação com o passado, pensamentos que trazem sensações emocionais. Deixar a mente, tendo consciência da presença, vivendo o Agora, pois é apenas o que há, passado e futuro não tem existência real, são apenas projeções mentais. Então, viver a Presença, o Agora, apenas.

6. Quais os benefícios de se abrir à Aceitação?

Quando nos livramos do sofrimento psicológico nos tornamos verdadeiros, integrais e isso é alegria pura. Viemos ao mundo para celebrar a Existência, a Vida!

Livres. Agora.

7. Qual a relação entre aceitação e Liberdade?

Voltamos ao Ser. Liberdade com ele maiúsculo só há na Consciência. Não é possível ser mais ou menos livres, ou somos Livres ou continuamos presos aos pensamentos e sentimentos, ao passado.

8. Algumas máscaras sociais e condicionamentos nos levam às vezes a aceitar mais o outro do que a nós mesmos. Como praticar a autoaceitação?

Aceitar a si mesmo, isso é muito difícil para o ego. O ego é um complexo de contradições e não pode controlar a si mesmo de modo efetivo. A proposta é silenciar internamente e ter consciência de que não somos o eu autocentrado, separado do Ser. O ego é produto da mente, pensamentos, emoções, sentimentos, desejos… a ele só é possível controlar, o que mantém o sofrimento.

À medida em que há silêncio interno, o silêncio da mente, nos desvinculamos desse eu separado e podemos observar tudo o que corre pela mente, os pensamentos que vêm e vão, o que não somos. Enquanto Consciência, podemos observar tudo o que acontece com a mente e nos mantermos em paz.

Mente livre. Mente em Paz.

9. Ao criar os temas que gostaria de abordar nessa entrevista, deparei com a seguinte frase em uma rede social: “A tolerância chegará a tal ponto que as pessoas inteligentes serão proibidas de fazer qualquer reflexão para não ofender os imbecis”. Qual a perspectiva da Consciência Integral em relação a isso?

Pessoas inteligentes x imbecis, são conceitos, dualidade pura, é do que temos de nos livrar e nos tornarmos o que de verdade somos: Consciência Integral.

Ser total. Em unidade. Integral

10. Algo mais que que não abordei e gostaria de trazer sobre o tema?

Só reafirmar que, se quisermos ser livres do sofrimento definitivamente, temos que reconhecer que somos Consciência, o Observador, o que não muda, e não pensamentos e sentimentos, que são impermanentes e que trazem sofrimento.

Experimente a realidade antes de todos os conceitos. Silencie perfeitamente, profundamente. Ou, como diz Nisargadatta Maharaj: “encontre aquele que estava presente em seu nascimento e testemunhará a sua morte”.

Testemunhar o que se é